A Idade adulta avançada constitui um momento da vida que por muito tempo não foi encarado como um estágio do desenvolvimento humano. Partilhando-se da crença de que o indivíduo nasce – cresce - reproduz - morre, é difícil perceber a relevância de tal período de forma a lidar com as questões encontradas.
De acordo com Berger (2003), existem hoje três grandes correntes teóricas que aprofundam o conhecimento sobre este grupo: as Teorias do Self, as Teorias da Estratificação e as Teorias Dinâmicas.
Segundo seus estudos, Berger destacou que as Teorias do Self percebem cada indivíduo com papel ativo no seu desenvolvimento. Uma das formas de se observar isso é por meio da teoria cunhada por Erik Erikson (1986) que percebe ser esse um momento de reflexão para o indivíduo, que pode transitar entre a integridade e a desesperança. Este marco na vida da pessoa pode orientá-la a desenvolver contentamento pela forma com que levou a vida, além de querer também continuar tendo participação ativa na vida social, por analisar o caminho traçado até então de maneira positiva. Em sentido oposto, o mesmo indivíduo pode chegar à conclusão de que não viveu sua vida de forma plena como gostaria, e percebe que o tempo de vida hoje é muito curto para se voltar atrás. Essa constatação da proximidade da morte o levaria a uma situação de desesperança.
Tal teoria é questionada por meio de situações vivenciadas no filme “Garotas do Calendário”¹ que traz à tona mulheres em idade adulta avançada que criam um polêmico calendário com fotos delas mesmas realizando suas atividades rotineiras, tais como cozinhar, cuidar de plantas, entre outras. A atitude em se lançar este calendário não pareceria tratar-se de um tema polêmico não fosse o fato delas posarem nuas.
O propósito para se criar o calendário seria a arrecadação de fundos a um hospital, o que poderia enquadrá-las na polaridade Integridade citada por Erickson.
Mas o filme vai além disso: traz consigo a beleza da descoberta que tais mulheres fazem de si mesmas a partir do contato e da exposição de sua própria nudez, numa naturalidade de corpos que assumem suas idades, sem plásticas ou musculações e, mesmo assim, com suas belezas singulares.
Isso pode nos levar a pensar também na Teoria da Identidade, também mencionada por Berger (2003), segundo a qual a busca da identidade do indivíduo é posta à prova durante por toda a sua vida, inclusive nesse momento marcado por rupturas e mudanças de papéis. No filme, quando uma das personagens fica viúva, ela tende a se reestruturar, encontrando no lançamento do calendário uma nova forma de lidar com a vida.
O filme também vai de encontro às Teorias da Estratificação citadas pelo mesmo autor. Estas teorias encapsulam idosos em grupos segregados socialmente, seja pela idade, pelo seu gênero ou pela sua raça. Tal visão enquadra a mulher idosa, negra e pobre em uma ala marginalizada, o que é na verdade uma universalização de situações observadas. No filme, o que vemos são justamente grupos de mulheres que se encontram a “todo vapor” e unidas por laços de amizades sinceras, em uma organização capaz de dar continuidade ao sentimento de inclusão no convívio social, além de apresentar um exemplo de sabedoria e lição de vida aos mais jovens, lição essa que também aconteceu de forma semelhante no Rio Grande do Sul ².
A história brasileira tem como uma de suas protagonistas a Dona Ana - uma senhora de 94 anos que dedica seu tempo a ajudar outros idosos fragilizados que, em sua maioria são mais jovens do que ela. Dona Ana é um exemplo de envelhecimento saudável, ativo e bem-humorado.
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