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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Elementos da Tragédia

Os elementos básicos da tragédia são:

1) Coro: composto por 12 ou 15 elementos, os coreutas. Após entrarem na orquestra, a área de dança no teatro, cantam e dançam nesse espaço. Estes dançarinos-cantores eram em geral homens jovens que estavam a ponto de entrar para o serviço militar após alguns anos de treinamento. Não eram, portanto profissionais do teatro e daí a importância do tragediógrafo também como ensaiador do coro, muito embora os atenienses desde crianças fossem ensinados a cantar e dançar. 
2) Corifeu: é um membro destacado do coro que pode cantar sozinho. Em geral tem 3 tipos de funções principais: 
a) exortar o coro à ação, a começar o canto;
b) antecipar, ou resumir, as palavras do coro;
c) representar o coro, dialogando com os atores. 
3) Atores: representam deuses ou heróis. São em número muito reduzido. Na verdade, pode-se dizer que o teatro surge quando Téspis cria a figura do ator e ele passa a dialogar com o coro. Seu número sobe para dois e em seguida três, mantendo-se nesse patamar, mas podemos observar que a estruturação dos diálogos nas tragédias tende a se concentrar em dois atores apenas, sendo raras as cenas que apresentam um verdadeiro diálogo a três. É no diálogo entre atores que se concentra quase a totalidade da ação dramática.
Os três atores tinham nomes que revelam uma relação hierárquica: 
protagonista: primeiro ator
deuteragonista: segundo ator
tritagonista: terceiro ator 
Estrutura Formal da Tragédia grega do ponto de vista da sua forma, quer na sua divisão em partes principais, que na ocorrência de cenas típicas, quer na sua estrutura métrica. 
 
I - As Partes Principais da Tragédia: 
1. Prólogo:
 É a primeira cena antes da entrada do coro ou antes da primeira intervenção do coro. Trata-se de uma narrativa preliminar que visava introduzir o tema. 
Tipos de Prólogo: 
- com apenas um ator, na forma de solilóquio ou monólogo: ex.: Agamêmnon, onde o solilóquio do vigia, que durante a noite espera o sinal da vitória em Tróia, nos antecipa tanto as circunstâncias da como o próprio clima ansioso e opressivo da tragédia.
- com mais de um ator: cena aberta com diálogo e ação. ex.: Prometeu Acorrentado, onde a peça abre pelo encadeamento de Prometeu por Hefesto, Poder e Violêcia e onde situa-se a peça espacialmente e nas suas circunstâncias. Também em Medéia ocorre esse tipo de prólogo com mais ação, no caso, através do diálogo entre a ama e o preceptor.
 2. Párodo 
Inicialmente era a entrada do coro cantando e dançando na orquestra, o espaço cênico em frente e abaixo do palco, como vimos. ex.: As Coéforas. Pode ser também a primeira ode do coro, pois este já estaria presente, em silêncio, desde o início da peça, mas é raro. ex.: As Eumênides 
Pode ser executado: 
- por todo o coro, o caso mais freqüente; ex.: Agamêmnon
- por dois semi-coros em sucessão; ex: Suplicantes de Eurípides,
- pelos membros individuais do coro em falas rápidas, ex.: Eumênides. 
Depois de sua entrada, o coro, em geral, fica presente durante toda a peça. São poucos os casos de saída de cena. Apenas nas Eumênides, Ájax, Helena, Alceste e Reso. O canto de retorno a orquestra é chamado epipárodo. 
3. Episódios ou Partes 
São cenas no palco, entre os cantos corais, sejam estásimos (ver abaixo) ou diálogos líricos, em que participa no mínimo um ator.
 Podiam variar muito de tamanho e importância. Além dos atores podem participar figurantes também. O figurante distingue-se do ator por não possuir falas.
 Podem ocorrer diálogos de tipo ator-corifeu ou ator-ator em que predominam as narrativas. Os solilóquios, diferentemente do teatro posterior, são pouco freqüentes, pois o coro em geral está sempre presente depois do párodo. Um exemplo de solilóquio durante um episódio encontramos no Ájax, de Sófocles.
4. Estásimos: 
Eram os cantos e danças do coro na "orquestra" que separam os episódios, marcando pausas na ação. Seu número é variável, de 2 a 5, em geral. A "dança" podia se restringir a uma gesticulação enfática e era de caráter grave e trágico.
 Êxodo
Inicialmente, como indica o seu nome, era simplesmente a saída do coro cantando e dançando ao final da peça, como por exemplo n´As Suplicantes e n´As Eumênides. Posteriormente, com a diminuição gradual do papel do coro, passou a ser a última cena depois do último estásimo e que termina o drama ex: Agamêmnon.
Esta diminuição do papel do coro no êxodo pode ser de 2 formas: em primeiro lugar podia terminar o drama em um "diálogo lírico" entre coro e atores (ex.: Persas), ou em alguns versos finais do corifeu.
Catástrofes: cenas de violência, em geral oculta dos olhos da platéia e narrada posteriormente por um ator, como Os Persas, que narra a destruição da expedição contra os gregos. Representa a reviravolta para pior no destino de uma personagem. Na peça Agamêmnon, por exemplo, o seu assassinato por Clitemnestra. Em Édipo, a cena final, onde o protagonista aparece em cena com os olhos perfurados e sangrando.
 Cenas patéticas: cenas de explicitação de sofrimento, dor, em cena. Por exemplo, as cenas em que Electra dá vazão a sua dor pela morte do pai e pela situação humilhante a que a obriga a própria mãe
PARTES
DIÁLOGOS
CENAS
PRÓLOGO
diálogo Édipo-sacerdote
diálogo Creonte-Édipo

PÁRODO
entrada do coro, constituído por anciãos

1º EPISÓDIO
diálogo Édipo-corifeu
diálogo Édipo-Tirésias
-> cena de enfrentamento
1º ESTÁSIMO
coro canta

2º EPISÓDIO
Diálogo Creonte-corifeu
diálogo Édipo-Creonte
diálogos Jocasta-Creonte-Édipo-corifeu
diálogo corifeu-Jocasta
diálogo Jocasta-Édipo
-> cena de enfrentamento

-> cena de reconhecimento (parcial)
2º ESTÁSIMO
coro canta

3º EPISÓDIO
diálogo mensageiro-Jocasta
diálogo Édipo-Jocasta-mensageiro

3º ESTÁSIMO
hipôrquema

4º EPISÓDIO
diálogo Édipo-corifeu-pastor
diálogo Édipo-pastor
diálogo mensageiro-pastor
-> cena de reconhecimento (total)
ÊXODO
diálogo criado-corifeu
suicídio de Jocasta e auto-flagelamento de Édipo
diálogo corifeu-Édipo
intervenção musical do coro

diálogo Édipo-Creonte
-> cena de catástrofe

No párodo da Médeia, podemos ver como em um diálogo lírico que
envolve o Coro, Medéia e a Ama, Eurípides combina a estrutura estrófica com o recitativo. 

Canto Coral na Medéia de Eurípides 
Párodo: 
1ª estrofe (A): 12 versos cantados pelo coro recitação de Medéia em 8 anapestos 
1ª antístrofe (A): 12 versos cantados pelo coro recitação da Ama em 8 anapestos 
Epodo (E): 9 versos cantados pelo coro
Já no primeiro estásimo temos uma estrutura antistrófica muito mais simples cantada pelo coro sem epodo:
1ª estrofe (A): 7 versos
1ª antístrofe (A): 7 versos
1ª estrofe (B): 7 versos

Os grandes poetas trágicos

Ésquilo "O Pai da Tragédia"
1. Um Dramaturgo nas Encruzilhadas
No ano de 525 a C.., Cambises invadiu o Egito e Ésquilo nasceu. 
Dez anos antes que Ésquilo, fizesse sua estréia como dramaturgo encenando, em 490, estava na planície de Maratona com o grupo de atenienses que repeliu as hostes do maior império do seu tempo. Aos trinta e cinco anos era herói nacional.
Dez anos mais tarde a população de Atenas foi obrigada a abandonar a cidade que foi completamente destruída pelo invasor.
A civilização helênica foi salva pela momentosa batalha naval de Salamina.
Ésquilo celebrou a vitória sobre os persas escrevendo, oito anos depois, Os Persas, escrito em 472 a. C. trata de um fato prático contemporâneo, e foi obviamente cunhada para despertar o fervor patriótico.
6. Tragédia Humana - Édipo e Agamemnon
Após estabelecer uma providência moral no universo, só restava a Ésquilo fazer com que a vontade desta prevalecesse entre os homens. Na primeira delas, uma tragédia de Édipo, Ésquilo recusou as explicações pré-fabricadas e foi além da convencional teoria grega da maldição familiar.
Nos Os Sete Contra Tebas deixa perfeitamente claro que a hereditariedade é pouco mais que uma predisposição. Os crimes cometidos pelos descendentes do corrupto Laio são resultado da ambição, rivalidade e insuficiente predomínio da lei moral durante a idade legendária.
Sófocles, O Sereno
1.O Dramaturgo Feliz
Nascido em 495 a C, trinta anos após seu predecessor, desfrutou das comodidades de filho de um rico mercador e das vantagens de um belo corpo. Sófocles foi o ídolo querido do povo de Atenas, pertencendo à longa linhagem de escritores que negam a teoria de que o gênio nunca pode ser reconhecido enquanto vivo.
Há dois tipos de sofrimento em suas tragédias – aquele que advém de um excesso de paixão e aquele que brota de um acidente. O mal produzido pelo homem é formado no molde fixo do caráter humano e o acidente decorre da natureza do universo. Embora Sófocles aceitasse oficialmente os deuses gregos, estes não afetavam sua filosofia. No mundo sofocliano o homem deve esforçar-se para introduzir ordem em seu próprio espírito.
6. Antígona e o Drama Social
Uma das mais grandes tragédias da literatura dramática é Antígona, escrita em 442, antes de qualquer dos textos de caracteres remanescentes. Sófocles dedica-se aqui a um conflito básico, as pretensões rivais do Estado e da consciência individual.
A Tragédia do Destino – Édipo
Édipo, o trineto de Cadmo, é hoje talvez o herói grego mais famoso depois de Hércules; ele é famoso por ter resolvido o enigma da Esfinge, mas ainda mais notório por sua relação incestuosa com sua mãe. Rei Édipo é uma tragédia da existência. E se é uma tragédia da existência, por que não se pode considerá-lo também uma tragédia da culpa? Culpa e existência mostram-se inseparáveis e, nos termos da irracionalidade de ser, o homem deve pagar por sua individualização. Ora, esta culpa de ser, Édipo a traduz muito bem. Na versão de Sófocles, funesta maldição pesa sobre o herói; o que a justifica? Na linguagem da consciência mítica, de onde Sófocles foi colher os elementos do drama, realmente nada. É o absolutamente gratuito. Simplesmente Édipo não deve nascer. Não há qualquer ato pessoal de desmedida ou impiedade que justifique a sua desdita; esta reside na sua existência mesma. Um oráculo de Apolo predissera a Laio, rei de Tebas, que, se tivesse um filho, ele seria o matador de seu pai e marido de sua própria mãe.
A mesma batalha com um tema importante e difícil distingue as duas grandes peças que colocam o problema do destino.Usualmente o acidental é considerado um artifício barato e fácil na literatura dramática. Mas não é barato nem fácil no Édipo Rei. O acidente ocorre antes do início da peça e amarra as circunstâncias num nó que só poderá ser desatado após prolongada batalha. Além disso, felizmente, Sófocles estava à altura da tarefa. Es não podia esperar resolver o enigma do destino, ao menos conseguiu uma das incontestáveis obras-primas do mundo. E é novamente seu soberbo Dom para a caracterização que enriquece a simples mecânica da dramaturgia com vida, agonia e plausibilidade.
A estória de Édipo nos convida a descer às profundezas da antropologia e psicanálise modernas que foram intuitivamente perscrutadas pelos poetas desde tempos imemoriais. Somos relembrados dos impulsos anárquicos e incestuosos que complicam a vida do homem e se exprimiram em tantos tabus primitivos e neuroses civilizadas. Como toda obra de arte superior, esta tragédia tem uma vida dupla: aquela que expressa e aquela que provoca.
Eurípides, O moderno
O homem barbado que vivia com seus livros numa caverna na ilha de Salamina era um estranho entre os homens de seu tempo. Dizia-se de Eurípides que passava dias inteiros sentado, a meditar, desprezava o lugar comum e era melancólico, reservado e insociável.
Nos cinqüenta anos de teatro, durante os quais escreveu noventa e duas peças, conquistou apenas cinco prêmios, sendo o quinto concedido após sua morte. Permanente alvo dos poetas cômicos, especialmente de Aristófanes, tornou-se objeto das mais desenfreadas calúnias e zombarias.
Julgado por impiedade deixou Atenas totalmente desacreditado. A corte macedônia do rei Arquelau  honrou-o. Mas, apenas uns dezoito meses depois, veio tragicamente a falecer. Eurípides é o exemplo clássico do artista incompreendido.
Sócrates colocava-o acima de todos os outros dramaturgos e jamais ia ao teatro senão quando Eurípides tinha uma de suas peças encenadas. Sófocles respeitava seu colega-dramaturgo, ainda que não aprovasse seu realismo.
Em 431, ano de Medéia, Atenas entrou em sua longa e desastrosa guerra com Esparta. Não era momento para um homem como Eurípides preocupar-se com problemas predominantemente pessoais.

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