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sábado, 12 de novembro de 2011

Para quem só pensa naquilo

Para quem só pensa naquilo

Criado pelo inglês Nick Hornby no romance “Alta Fidelidade” (1995), o personagem-narrador Rob Fleming — interpretado, em chave norte-americana, por John Cusack em filme homônimo de 2000 dirigido por Stephen Frears — representa um perfil de consumidor da cultura pop que se multiplicou com a blogosfera e as redes sociais na internet: o do criador (e também leitor) de listas.

Para quem não leu ou já esqueceu, “Alta Fidelidade” começa assim, na tradução de Paulo Reis para a Editora Rocco:
“Em ordem cronológica, minhas separações mais memoráveis, as favoritas, as cinco que eu levaria para uma ilha deserta: 1) Alison Ashworth; 2) Penny Hardwick; 3) Jackie Allen; 4) Charlie Nicholson; 5) Sarah Kendrew. Essas foram as que doeram de verdade. Está vendo o seu nome nessa lista, Laura? Acho até que você conseguiria entrar sorrateiramente, nas dez mais, mas não há lugar para você nas cinco; esses lugares estão reservados para aquele tipo de humilhação e sofrimento que você simplesmente não é capaz de provocar.”

Dono de uma loja de discos, Fleming faz diversas outras listas — ligadas à música, em geral — no restante do livro (e do filme). Graças ao sucesso de “Alta Fidelidade”, ele se tornou uma espécie de patrono simbólico de todos os que se dedicam a criar rankings e hierarquias, os “top 5″ ou “top 10″, com suas preferências no universo pop. É difícil resistir à tentação de conferir essas listas quando elas passam à nossa frente, para checar coincidências de gosto e discordâncias radicais, ou mesmo, quando o autor demonstra conhecer profundamente o tema, para se informar.

É o caso de “Sexo, Cinema e Dois Corpos Fumegantes” (Ed. Zelig, 282 págs., R$ 69 – opa!), que traz 69 — opa! — listas de filmes relacionados aos mais diversos temas, de “beijo” a “orgasmo”, passando por “musicais excitantes”, “panela véia”, “deusas nacionais”, “sexo literário”, “monstros que Freud explica” e “sexo e religião”. Seu autor, Maurício Nunes, se apresenta como “libertino graduado em erotismo, pós-graduado em Milo Manara, com MBA em Marquês de Sade”.

O livro não tem fotos, que exigiriam um trabalho descomunal para solicitar os direitos de reprodução (opa!), mas traz dezenas de ilustrações de Fernando Bernardo, em traço que às vezes lembra o de Manara e em outras o de Carlos Zéfiro, de quem Nunes se diz “profundo conhecedor”. O volume de informações é impressionante. Mais do que concordar com as listas (sempre de 10) ou discordar delas, o divertido é navegar pelas seleções para refrescar a memória, tomar notas de filmes a ver ou rever, ou apenas aprender um pouquinho com os verbetes que acompanham cada escolha.

A lista 29, de “diretores tarados”, usa como epígrafe uma frase de Jean-Luc Godard: “Tudo o que você precisa para um filme é uma arma e uma garota”. Seguem-se os dez selecionados: Russ Meyer, Pier Paolo Pasolini, Stanley Kubrick, o próprio Godard, Roman Polanski, Tinto Brass, Bernardo Bertolucci, Bigas Luna, Pedro Almodóvar e Lars von Trier. Seleção de primeira classe, devidamente explicada pelos verbetes que acompanham cada cineasta.

Na lista 49, com dez “dublês de corpo”, a epígrafe é de Lord Byron: “A mentira é a verdade atrás da máscara”. Já ouviu falar de Alisa Hensley, Catherine Bell, Leilani Munter e Rachel Carr? Mesmo que não saiba quem são, é provável que tenha visto seus corpos — em filmes, vídeos musicais e publicidade — achando que eram os de Charlize Theron, Cameron Diaz e Nicole Kidman (no caso de Hensley), de Isabella Rosselini e Meryl Streep (Bell), de Catherine Zeta-Jones (Munter), e de Kylie Minogue, Christina Aguilera e Britney Spears (Carr).

Uma das 69 listas do livro é inteiramente dedicada a Kate Winslet. “Estou com quase 34 anos e não posso mais me expor”, diz ela na epígrafe. [Em 5 de outubro, ela já completou 36.] “Se as pessoas veem meus seios em um filme e dizem que são naturais, então é ótimo. Mas não posso mais continuar fazendo isto. As pessoas já viram meu corpo demais.” Onde? Com certeza, nos 10 filmes selecionados por Nunes: “Almas Gêmeas” (1994), “Paixão Proibida” (1996), “Titanic” (1997), “O Expresso de Marrakesh” (1998), “Fogo Sagrado” (1999), “Contos Proibidos do Marquês de Sade” (2000), “Íris” (2001), “Pecados Íntimos” (2006), “A Grande Ilusão” (2006) e “O Leitor” (2008).

Já a lista de “nu masculino” traz “1900″ (1976), “Gigolô Americano” (1980), “Traídos pelo Desejo” (1992), “O Piano” (1993), “Cor da Noite” (1994), “O Livro de Cabeceira” (1996), “Austin Powers – Um Agente Nada Discreto" (1997), “Boogie Nights – Prazer sem Limites” (1997), “Watchmen” (2009) e “Simplesmente Complicado” (2009).

Por Sérgio Rizzo, colunista do Yahoo! Cinema

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